14º
Dia:
00h
04m – Acordei incomodadissima com a forte luz que vinha lá de
fora. Deixaram uma lampada muito forte acesa frente à janela do
escritorio. Vou ter de ir lá fora apaga-la.
Ai... custa tanto por o pé no chão.
Ai... custa tanto por o pé no chão.
Parece
que me estão a arrancar a pele na orla da lesão. Vou mas é acender
a luz da secretária para ver o que é. Isto de ter ficado a dormir
no sofá do escritório acabou por me criar problemas logisticos. As
almofadas são demasiado moles e afundo-me. Achava-o muito cómodo e
até vinha dormir para aqui por gosto. Mas depois de tantos dias
incomoda. Estou é muito perto do duche e como passo a vida a duchar
a perna, faz jeito.
Quando
eu era adolescente fartei-me de fazer experiencias sobre tudo. A mãe
deixava pois eram estranhas mas quanto
mal nunca pior
dizia conformada.
Uma delas foi testar porque se havia de fazer a cama de forma tão
complicada. Então mandei tirar o colchao da cama (ficou meses
encostado à parede ao lado do guarda fatos) e fazia a cama apenas
com mantas em cima do enxergão de palha muito duro. Durante muito
tempo resultou. Quando estava na cama apenas as normais 8h de sono.
Porem adoeci com hepatite A e fui obrigada a ficar na cama durante 3 semanas. Só me podia levantar para ir à casa de banho. Não
tardou nada para eu estar a pedir que me pusessem outra vez o colchão
na cama. E que a fizessem com lençois, almofadas e tudo o mais a que
temos direito.
Estou
agora a olhar para a coxa. Parece-me que tenho larvas pretas a toda a
volta da ferida da coxa, iac... Estão mesmo estranhos. Iac! Mas como é
que elas apareceram aqui?
Afinal
são apenas rolos de pele morta. Uf!
Pincelo
clara de ovo por toda a superficie queimada. O Eduardo referiu-as
como muito boas para queimaduras.
00h
56m - A clara de ovo aliviou ao principio. Mas agora ficou a doer.
Fase de contração Aiiii... vou aplicar mais clara = proteína
imediatamente disponivel.
Qualquer
toque do edredao tem sido muito doloroso. E aqui em cima na coxa
está tudo tão encarnado!
02h
21m – Ainda não voltei a dormir. Mudei a cabeceira para o outro
lado do sofá. Continuou tudo a arder muito. E eu a pintar clara de
ovo e a pulverizar agua nela quando começa a secar, para não doer.
Há
umas coisas pretas e informes a soltarem-se da coxa. Já organizei um
saco para por o lixo, ao lado do sofá.
As
vezes assusto-me a achar que tenho larvas ou insectos mas reparo
melhor e afinal são apenas bocadinhos de pele frita e retorcida.
Ainda
bem que já dormi das 21h até à meia noite. Isto, esta noite, promete ser
animado. :-/
Os
bocadinhos de pele seca caem na cama. Picam-me. Tenho de a sacudir.
Volto
a fazer o exercício do veado. Deitada.
Entretanto
vou meditando. Aparecem-me ideias interessantes. Não sei se certas;
mas interessantes são de certeza. Coisas deste género:
O
meridiano do intestino delgado devia ir a um 6º dedo ao lado do
minimo nas mãos. E o do rim tambem devia acabar num 6º dedo em
ambos os pés. Por que será que só ficamos com 5 dedos?
Seria
natural termos 6 dedos. Há gente que os tem. Um dos meus filhos
tambem tinha. Mas depois o
pai mandou-o mutilar. Para ficar “perfeito”.
Realmente
eu escolhi muito mal os meus maridos. E os namorados até eram
pessoas optimas mas casei sempre muito mal. Ver se da proxima vez tenho mais
discernimento.
Pelo
menos através dos casamentos desastrosos alarguei muito o meu campo
de consciencia a de conhecimento para o Mal. Alguma utilidade havia
de ter aquele tempo da minha vida.
Estou
com sede. Bebo água de argila.
Para
a semana vem uma equipa inglesa filmar aqui a casa. Para uma tv e
net. Preciso organizar-me. Marcaram para 4ª feira. Pedi para virem
mais tarde. Quanto mais tarde for melhor eu estou. Espero então já
me poder vestir. E mexer melhor.
Estou
a ficar farta deste cheiro suave e doce das feridas. Mais gotas de
essenciade eucalipto na camisola. Sinto-me logo melhor.
12h
20 – Recebi e fiz telefonemas. Acordei bem disposta e sem vontade
premente de ir fazer xixi. Tinha era a cama cheia de flocos de pele
morta, bem fritinhos.
O
folho de bordado ingles do edredao já não me magoou ao tocar a pele
nova. Tinha sido um tormento.
Os pés, agora, estão quase iguais. Em tamanho. Estou
sempre a mexer os dedos deles. E a massaja-los.
Os mestres
taoistas dizem que se começa a morrer pelos dedos dos pés
inactivos.
21h
12 - Hoje o J vem dormir cá outra vez. Ele no quarto e eu aqui no
sofá. Volto lá para cima só quando conseguir mexer-me melhor.
Depois de um ataque de choro meu é que ele acedeu a tomar consciencia das
peculiaridades de se viver numa casa como esta. Ou a mantemos muito
limpa e arrumada ou toda a bicharada do jardim nos invade.
Eu
que nunca choro estive a chorar uma
meia hora. Disse
ele. Claro que eu não estive a contar os minutos. Ele lá sabe. O J é muito
bom a avaliar o tempo. Mesmo sem relógio sabe sempre as horas sem
grande margem de erro.
Chorar só
me faz bem.
Limpa e abre horizontes. Aliviou-me muito o plexo
solar.
Estas
duas semanas a lutar pela minha sobrevivencia foram um grande
desafio. Quando estou capaz de fazer a minha vida normal outra vez?
Apesar
de me sentir fraca cozinhei uma sopa peculiar: chucrute com alga
hiziki, agar-agar e arroz.
Depois
temperei com miso de cevada. Era o k me apetecia. Foi o que comi.
Intuição ao Poder!
Dai mamma che passerà.
ResponderEliminarQuerido filhote, Tó! <3
ResponderEliminarObrigada. :-)