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quarta-feira, 11 de julho de 2012

DIARIO DA RECUPERAÇÃO DAS QUEIMADURAS: 1º DIA



Na foto vemos a zona de queimadura profunda na coxa. É o maior desafio que nos está a ser posto. Evitar cicatrizes, regenerar uma pele perfeita com poros e pelinhos louros. Como tal elastica e flexivel. Ou seja funcional.
Prescindindo do enxerto que é o tratamento hospitalar convencional.
Vamos ver o que conseguimos.


Este texto assim como os seguintes, são a transcrição dos apontamentos em papel, que fui tomando a partir do dia do acidente:





1º Dia:

Depois de um almoço pic-nic de “jaquinzinhos” fritos, decidi fritar tambem um resto de batatas esquecidas há meses e as fatias de pão que tinham sobejado. Desligamos a fritadeira.
Ficamos a conversar. O J, eu e a Vanessa Rodriguez. A simpatica voluntária californiana que estuda Historia e Ciencias Políticas na universidade de Berkeley. Veio passar uma temporada a estudar em Espanha e decidiu conhecer tambem Portugal.
Eu estava sentada num dos bancos de alvenaria encostados aos pilares do telheiro. Ao meu lado uma mesinha. Tinha ainda a fritadeira em cima. Discutiamos calmamente que fazer depois do almoço. Tínhamos comido tipico: jaquinzinhos com arroz integral de grelos e salada de alface com cebola e coentros. Em atenção às/os voluntarias/os que passam temporadas aqui em casa para aprenderem a viver de forma sustentável, fazemos uns almoços mais à portuguesa umas 2X por ano. Hoje foi um desses raros dias.
Decidimos ir à praia a seguir. A Vanessa ficou muito contente e levantou-se dirigindo-se ao telheiro. Pelo caminho deu um encontrão na fritadeira que entornou o azeite em cima de mim...
Dei um berro enorme e pensei logo em água fria. Mas a banheira estava em casa. A uns 10 metros e vazia.
Todavia a apenas uns 2 metros estava um pequeno lago. Saltei logo para dentro dele.
A prioridade era arrefecer para parar a cozedura dos tecidos vivos. Fiquei sentada contra uma das paredes e com os pés apoiados na outra. Isto na zona mais estreita do lago. Não me apetecia nada meter os pés no lodo. Orgulho-me muito daquele lodo perfeito, cheio de vida que torna sustentavel o ecositema de tantos peixes, rãs, etc. Mas talvez algum dos bichinhos que lá vivem não seja o mais indicado para viver debaixo da minha pele...
Felizmente tenho muito sangue frio e pedi ao meu amor para me pôr agua fria até meio na banheira. Com sal.
Entretanto a Vanessa desfazia-se em desculpas "I'm so sorry! I'm so sorry!" Repetia continuamente com as mãos na cabeça. 
Mas no Universo do Amor, Compaixão e Gratidão as culpas não existem. 
Apenas a responsabilidade plena pelos nossos actos. Todavia não lhe dei grande atenção devido às dores.
E a estar a ver como conseguia manter os dedos dos pés dentro de água. Não queria meter os pés no lodo. Cheio de vida e de bicharada... que poderia querer instalar-se debaixo da minha pele. Mas exagerei. Naquela zona o lago tem 90cm de fundo. Tinha muito espaço.
Estava dentro de água até à cintura. Com as mãos e os antebraços submersos. Mas tinha-me distraído com os dedos queimados e tinha-os apoiado fora de água. Estavam-me a arder muito.
Por meio disto tudo repetia em pensamento e continuamente a base do hooponopono “eu amo-me, eu perdoo-me”. Manter o sorriso e a mente ocupada com ideias positivas é fundamental.
Por outro lado perguntava-me sobre o enigma que estes acontecimentos presupoem “que mudanças precisava fazer em mim e na minha vida para receber um sinal tão grave” “que posso aprender com isto?”
Estas questões são basicas para a cura e o melhor é aproveitar bem o tempo. Desta vez era comigo que tinha de aplicar o que tinha passado a vida a estudar.
Que a unica cura verdadeira é a autocura.
Tudo acontece sempre para o nosso Bem e podemos sempre tirar o melhor de todas as situações.
Apesar de eu até então, ainda não ter visto como... E continuar a berrar “ais” de dor. Eu que nunca me lamento. E que sei que as queixas são venenosas.
A primeira ideia que me veio em mente quando isto aconteceu foi que tenho de escolher com mais cuidado as pessoas que deixo aproximar de mim. Grande parte dos voluntários que por aqui passam veem apenas porque estamos a 30m do Cais do Sodré, no centro de Lisboa. 
E andam meio tontos. Drogados com pseudo-alimentos ou mesmo drogas legais ou ilegais apesar de eu reiterar bem que não quero isso aqui em casa. Depois claro que os reflexos não são os melhores e estragam coisas ou criam acidentes. Eu tambem devia estar bem sampaku para estar no sitio errado à hora errada. 
Andei a fazer concessoes ao J. Que ainda não percebia da importancia de tudo o que deixamos entrar em contacto com o nosso campo de energia. Ele tem umas orelhas enormes. O que significa que os pais lhe deram um património biologico de primeira qualidade. Não se apercebe do mal que tantas coisas fazem. Pois o corpo dele transmuta quase tudo. Surpreende-se por eu ser muito sensível e ficar mal disposta por tudo e por nada que coma. Há que ter muita sabedoria pois mesmo as coisas muito boas, se mal geridas podem resultar numa maldição.
O meu amor voltou dizendo que a banheira já estava como eu tinha pedido. Só consegui sair do lago com a ajuda da mão dele. E lá fui a escorrer água e óleo até à banheira.
Pus mais água a correr. Mas sentia a água fria como quente. Tinha de manter constantemente as pernas em movimento pois de contrario todo o meu corpo se agitava em violentos espasmos.
O J entretanto tinha chegado com um saleiro de mesa que tentava abrir para deitar o conteúdo na banheira. Homens... teem noções peculiares sobre sal e seus contendores. 
Dias depois descobri que antes de me ir buscar tinha posto na banheira flocos de agar-agar a julgar ser sal. Felizmente não tenho em casa pimenta branca moída, senão poderia ter sido um desastre.
Disse-lhe que era melhor ir buscar o saleiro grande que estava ao lado do fogão. Ele voltou com ele na mão. 
Como tem uma colherinha de chá dentro para o colocar nos cozinhados, o J. preparava-se para se por a deitar colherinhas de sal no meu banho. Tirei-lho da mão e passei-o por debaixo do jorro de agua da torneira e devolvi-lho limpo.
A seguir pedi-lhe o pacote de argila. Era pouca mas despejei-o no banho.
Felizmente quando arranjei esta casa respondi ao mestre de obras que não queria apenas uma base de duche mas “uma banheira pois há muitas doenças que se curam apenas com um banho”. Mas não estava a pensar em acidentes desta natureza.
Telefonei a um amigo que tem uma fabrica de tofu aqui perto, a Shambhala. E o Carlos Oliveira foi impecável, como sempre. Veio trazer os 3 blocos de tofu que eu lhe tinha pedido. Dali a nada estava a bater-nos ao portão. Apesar de ser sábado e ele nem viver muito perto.
Tenho sempre tofu em casa, mas como era para comer, estava com sal e temperos. Não sendo o ideal para emplastros em queimaduras.
Dei instruções para porem a mangueira a correr para dentro daquele lago. Ver se minimizamos o desastre ecologico de tanto azeite que lá devo ter deixado. Nao tenho plantas de raízes curtas; mas as rãs devem ficar com a pele coberta de gordura e os peixes podem bebê-la quando vierem comer algo à superficie. As folhas dos nenufares tambem não devem apreciar azeite. Assim ver se a gordura vai sobrenadando para a terra, na zona de absorsão que deixei à volta do lago.

4 comentários:

  1. Maria Afonso, fico agradecida por partilhar a sua experiência conosco, demonstra grande fraternidade.

    Agradecemos e deseejamos as melhoras

    Um abraço

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  2. Não sei dizer se adianta, mas a AutoHemoterapia funciona também para recuperação de queimaduras!!

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    Respostas
    1. Muito obrigada pela sugestão Lex. Só agora a vi. Mas na verdade resolvi fazê-la depois de durante o ultimo ano não me ter preocupado nem ter visto melhoras algumas.
      Logo da 2ª vez desapareceram 2/3 das manchas castanhas na pele nova. A textura de crepe de plástico também desapareceu e ficou pele normal e elástica.
      A pequena mancha, que ainda tinha pele "plástica" e branca na zona da queimadura profunda, está a reduzir-se muito rapidamente.
      Aqui em Portugal foi difícil encontrar quem a fizesse e tenho de ir a outra cidade.

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